quarta-feira, 9 de julho de 2008

ENTREVISTA 8 - ( Amanda Copstein, Camila Machado, Diego e Paola Fabres ) ??? ( não colocaram o nome do entrevistado )

Entrevista realizada por : Amanda Copstein, Camila Machado, Diego e Paola Fabres



1- Como surgiu o seu fascínio pelas artes?

- Sou filho, neto e bisneto de músicos. De bebê só dormia se escutava Benny Goodman e Duke Ellington. Me criei no Conservatório de Música onde meus pais ensinavam, compunham e ensaiavam. Fui embalado por Bach. Escuto música erudita desde sempre. Toquei um monte de instrumentos. Minha mãe ainda é uma voraz leitora e nossa casa parecia uma biblioteca pública. Quando eu tinha entre três e quatro anos, ela me sentava no colo e me mostrava obras do Renascimento, Barroco e Romantismo. Antes de ser alfabetizado, já reconhecia Velázquez, Goya, Greco, Tiziano, Leonardo, Donatello, Andréa Verrochio, Michelangelo, Van Eyck, Rembrandt, etc. Eu me perguntava como esses homens conseguiam fazer isso que parecia absolutamente impossível. Era "tarefa de anjos, não de homens", diria Borges. Assim, eu fique sabendo que existiam seres superiores, os artistas, os escritores, os músicos, os poetas. Eu nunca pensei em ser nenhuma outra coisa que isso. Eu não pratico e ensino artes: eu sou a arte.


2- Como surgiu o seu interesse na escultura e fotografia?

- Meu pai fotografava muito bem. Era um mestre na composição em preto e branco. Eu comecei a praticar fotografia aos 13 anos, no grande boom dos anos sessenta, como fotógrafo e guia de turismo. Quando entrei na faculdade, já era profissional. Encontrei dos professores maravilhosos: Arsenio Martinez, formado no Instituto de Cinema de Paris, y Tito Guillaume, formado na Kodak de Rochester, USA. Ganhei uma bolsa e me dediquei a estudar exaustiva e cientificamente com eles. Aos 25 anos era coordenador de médios audiovisuais da poderosa editora Abril e tinha sete fotógrafos e cinco roteiristas a meu cargo, além de comandar uma equipe de locutores, sonoplastas, designers gráficos, editores, etc. Você tem só duas formas de abordar e compreender o mundo visivo: através do desenho, ou através da fotografia. Se não, não vê; não decodifica; não entende, nem penetra no pouco que enxerga.

No que diz respeito à escultura, bom... em literatura se diz que cada 100 romancistas, tem 10 contistas e 1 poeta. Em artes plásticas es igual, cada 100 pintores, tem 10 gravuristas e 1 escultor. A vida toda admirei a escultura por cima de tudo. Na faculdade tive alguns professores definitivamente geniais: César López Osórnio limpou minha visão e me levou a compreender Kandinsky e Klee: um ponto, quando se estica, cria uma linha; uma linha, quando se desloca, cria um plano; e um plano, quando se movimenta, gera o espaço. Rubén Elosegui me ensinou que em escultura existem quatro dimensões: três de espaço e uma de tempo, e que na estrutura expressiva jamais deve se repetir uma direção ou um plano. Manolo López Blanco me ensinou a pensar com minha cabeça, a ser dialético, historicista, polissêmico. E o imenso Angel Osvaldo Nessi me ensinou a encarar a arte como a maior conquista humana, a indagar permanentemente acerca da gênese do fenômeno artístico. Me botou a pesquisar as formas básicas da escultura (que ainda considero meu melhor trabalho teórico-ensaístico) e me mostrou Júlio González, Alexander Calder, David Smith, Berto Lardera, Moore e todos os outros.


3- Como se dá o processo criativo antes ou durante a criação da obra. A obra é cuidadosamente elaborada com antecedência ou é pensada durante e ao longo do seu surgimento? Como as formas surgem na sua cabeça?


- As formas não surgem na minha cabeça, nascem das minhas mãos. Se eu não sei aonde devo soldar uma placa, minhas mãos sabem. Eu trabalho em mi. Sou um criador instrumentado. Durante mais de trinta anos fui músico de jazz: meu corpo sabe improvisar. Eu sou no ato, no fato. Não penso, fico como em branco, como em meditação transcendental, no espaço inominável, infinitamente concentrado. A escultura é gerada por meu ser lançado à liberdade. Eu crio estruturas. Invento mundos possíveis, relações, translações. Não faço rascunhos, só alguns apontamentos, tendências. Sou um fazedor na medula da ação.
A intuição não é irracionalidade, é uma forma de conhecimento.



4- Como os estudos da história da arte surgem na sua produção?

- Primeiro estudei artes plásticas (desenho, cerâmica, gravura, pintura de cavalete e pintura mural, mosaico, vitral, escultura). Quase paralelamente estudei Cinema. Mas eu queria entender como alguns seres conseguiam fazer coisas que estavam fora do alcance dos demais. Me perguntava, essencialmente, como se gera a arte? Como nasce um demiurgo? Como todos esses fatos e essas obras tinham acontecido? Então me avoquei a penetrar no incomensurável universo das artes, da história, de forma metódica, por etapas, da mão daqueles que tinham a chave e conheciam os labirintos do mistério. E finalmente, nesses anos extraordinários, consegui descobrir. Foi fascinante. E muito muito difícil. Só 37 aprovamos o exame de ingresso, e de minha turma me formei só eu. Era muito duro. E me formei com média de dez pontos (10). Jamais tirei um nove. Sou o único nota dez de minha universidade em uns 135 anos. Eu realmente estava muito interessado em aprender e comprometido com a pesquisa. E a Historia da Arte me levou a estudar Antropologia Cultural, através da qual entendi o processo e a evolução humana. Algo fantástico. Não sei como as pessoas podem viver sem esses conhecimentos.



5- Quem são suas fortes influências?

- Cézanne, pela multivisão, pelo encavalgamento, pela construção estrutural, pelo abandono do tema pelo motivo, por ter-me ensinado que "quando a cor está em sua riqueza, a forma alcança sua plenitude". Depois, os que já referi, Kandinsky, Klee, mais o grupo Cobra.


6- Segundo a sua experiência, como se inserir no mercado e viver da arte?


- Eu sei de arte. De comercialização não sei nada. O valor pecuniário do objeto artístico é um assunto mercadológico que está fora dos parâmetros estéticos. Isso é coisa de economista, de mercador, de leiloeiro. Perguntem aos marchands ou galeristas. Eu venero a arte como vocação espiritual sagrada, e não como investimento monetário.

7- Quais as possibilidades de trabalho como artista? Há fortes diferenças no campo artístico do Brasil com o da Argentina?

- Para os artistas de verdade sempre é difícil chegar ao público e conseguir viver da arte, em todas partes, e muito especialmente no subdesenvolvimento cultural, econômico e político do terceiro mundo. Eu nunca me propus alcançar sucesso nem dinheiro com minha arte, assim como ninguém vai tentar enriquecer com a religião ou a ciência. Para me sustentar eu tenho minha digna profissão de professor universitário - já castigada de forma selvagem pelos donos do poder-, mas que me permite realizar uma tarefa social extraordinariamente útil, imprescindível, que me satisfaz plenamente e me permite sobreviver com dificuldades, mas sobreviver assim mesmo, e com orgulho. Detesto o mundo do dinheiro. Não vendo minha consciência. Sou docente e decente: crio e durmo em paz com a sociedade, e em harmonia com Deus e com o Cosmos.


8- Como lidar com as críticas?


- Algumas das melhores críticas que recebi foram de um gari da Patagônia que analisou perfeitamente meus murais junto ao mar (com os quais alguns dias depois ganhei o primeiro prêmio), e das duas senhoras que limpavam os banheiros de uma universidade na qual estava expondo. Foram momentos comovedores. Estes seres sensíveis, singelos, conseguiram me passar o que sentiam frente a obras abstratas. Me importo com o que falam meus amigos de outras profissões, médicos, psicólogos, músicos, engenheiros, escritores, professores de diversas disciplinas. Com a opinião de meus colegas arquitetos que sabem tudo de espaço; com o que me perguntam meus alunos e seus familiares. Eu já fiz exposição junto com meus alunos - e este ano faremos mais uma- e acho extremamente importante o que me falam os seus pais e irmãos, geralmente sem conseguir acreditar que essa ou esse jovem tenha conseguido criar uma obra de essa magnitude. É que artes só podem ser ensinadas por criadores. Jamais por burocratas.

Agora, aquela crítica profissional, do crítico do jornal ou da revista especializada, que não é metódico e escreve segundo seus interesses econômicos vinculados com certas galerias, colecionistas ou museus, não me interessa.


9- Qual é a relação com o público?

- Nunca jamais alguém me fez uma crítica negativa. Nunca jamais alguma pessoa manifestou não compreender minhas obras. Me sinto muito responsável por isso. Minha relação com o público é incrível, próxima, cálida, fraternal, solidária, inteligente e extremamente sensível. Eu tenho um êxito total com o público. Todo mundo gosta e desfruta de minha obra.


10- Como divulgar a obra?

- Por todos os médios possíveis, exposições, Internet, catálogos, monografias, livros, revistas, matérias nos jornais. Mas acho que as obras tem que ser apreciadas em galerias, em museus, em espaços preparados para recebê-las e mostrá-las com cuidado. Não sou muito de expor na praça, na rodoviária ou no corredor de um banco. As obras tem que ter seu hábitat, seu entorno próprio. Não se mostra uma vaca numa boutique de lingerie, e também não se exibe escultura num leilão de gado. Certo?

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