segunda-feira, 7 de julho de 2008

Entrevista 3 - Luciano Laner

Entrevista realizada por : Marielen Baldissera , Tiago Pizzutti , Mário Terrazas

O mediador ou arte-educador é quem irá facilitar a comunicação entre a obra de arte e o público em um espaço cultural (museus, exposições, instituições de ensino). O trabalho não é dar uma explicação sobre a obra, pode-se passar informações sobre o artista, a proposta, mas nunca limitar a interpretação pessoal do espectador. O mediador incentiva o apreciador, facilita, impulsiona diálogos, produz tensões entre as partes.
O arte-educador também é responsável pela organização de visitas em grupos de estudantes ou turmas específicas. O objetivo das visitar é provocar encontros estéticos, onde todos devem estar envolvidos e capazes de fazer conexões.
A seguir, uma entrevista com o coordenador de exposição e mediador do museu Iberê Camargo, Luciano Laner

1- Como você define o trabalho de um mediador?

O trabalho de um mediador é fazer a aproximação entre o público e a obra de arte, suscitando a análise crítica para que se possa pensar as questões da arte e demais proposições conceituais, formais ou históricas que a obra proponha. O trabalho de um mediador é espanar a poeira do óbvio, porque a um olhar atento nada é óbvio a ponto de deixar de ser profundo; essas percepções, especialmente quando se trata de obras de arte, não são imediatas, e, por isso mesmo, precisam ser mediadas.

2- Quais as principais características de um bom mediador?

Um bom mediador deve ter desenvoltura, aguçada capacidade de interpretação, boa dicção, habilidade para transmitir e jogo de cintura o bastante para saber lidar com o inusitado. Além disso, e sobretudo, um mediador precisa ter generosidade, porque só assim pode tentar enxergar o outro e o que ele está pensando com um olhar que parta do ponto de vista deste outro e não do seu próprio. Essa "mobilidade" do ver a partir dos ângulos mais diversos é o que garante que realmente se estabeleça a comunicação, o trânsito das idéias que formam um novo conhecimento - das quais o mediador deve ser o condutor, e não precisamente um indutor. Uma boa mediação é aquela em que o espaço e o tempo de interação entre obra e público põe-se como território da liberdade. É papel do mediador encorajar e extrair o sumo dos atos de liberdade do público. A mediação deve poder contar com informações precisas e comprovadas; mas, a meu ver, não pode ter tais dados como ponto de chegada, como meta; porque se assim for, haverá um trabalho de contenção, e não de mediação.

3- O que é necessário fazer para estar sempre atualizado?

Estudar. Ver. Pensar. Trocar.

4- Qual foi sua trajetória profissional até chegar a trabalhar na Fundação Iberê Camargo?

Trabalhei, primeiramente, no Santander Cultural, exercendo a função de Agente Cultural, que envolve o contato com o público, mas de maneira meramente prática, apenas para garantir o bom funcionamento da instituição; mas foi aí, contudo, que observando o trabalho do Educativo senti vontade de ser mediador. Procurei pela Monica Hoff para saber o que era necessário para que eu também pudesse fazer aquilo. Ela me falou dos testes de seleção para trabalhar na 4a. Bienal do Mercosul e, então, fui lá, fiz o teste e passei. Em 2005, trabalhei com a produção, montagem e mediação das mostras de quase uma centena de artistas de todos os lugares do mundo durante o Fórum Social Mundial, como voluntário. No final deste mesmo ano fui novamente mediador, da 5a. Bienal. Em 2006, trabalhei na exposição "Alegoria Barroca na Arte Contemporânea", promovida pelo Instituto Goethe no Museu Júlio de Castilhos e curada por Alfons Hug. Em 2007, fui assistente de supervisão da Mostra Zona Franca, da 6a. Bienal. E, agora, pois, tenho o privilégio de fazer parte do Programa Educativo desta Fundação.

5- Que tipo de público visita o museu?

Temos recebido um público muitíssimo variado. Desde estrangeiros (vindos do Japão, Inglaterra, Itália, Estados Unidos, etc) até as crianças que vêm quase todos os dias da Vila Ecológica, que fica nas imediações da nova sede.

6- As pessoas procuram uma explicação definitiva da obra ou preferem ter uma interpretação mais pessoal?

Não há um padrão. Depende muito da pessoa e também do tipo de obra. No entanto, quando estamos diante de artistas consagrados, como é agora o caso de Iberê, em grande parte das vezes as pessoas parecem gostar de tecer conclusões que tendem ao subjetivismo, posto que lhes parece garantido que estão diante de uma obra de qualidade irrefutável, e podem, portanto, soltar as amarras e fruir sem riscos as suas percepções e sensações. Já no caso de obras de arte contemporânea, algumas vezes as pessoas parecem ter a necessidade de que lhe provemos que "aquilo" é arte e fazem questão de que fique muito bem explicado o porquê, o que faz com que pareça que estão confundindo o papel do mediador com o de um "vendedor por comissão".

7- Como é o mercado da arte em Porto Alegre para o exercício dessa função? E no Brasil?

Acredito que seja um mercado que, se analisarmos os últimos dez anos, teve uma grande expansão em Porto Alegre. Os programas educativos aqui desenvolvimentos não encontram equivalente em nenhum outro lugar do mundo. Isso, porém, não significa que todos os que quiserem exercer essa função dependem apenas da decisão de fazê-lo, ou, ao menos, não da decisão de fazê-lo a qualquer momento; em ano de Bienal é mais fácil conseguir um lugar. Não posso responder a questão no que se refere ao restante do Brasil.

8- Que conselho você daria para quem deseja seguir essa profissão?

Em primeiro lugar, que se tente trabalhar na Bienal do Mercosul. O curso de formação, o volume de trabalho, o ter de lidar com a tão desafiadora arte contemporânea, as oficinas para públicos de todas as idades, o grande número de mediadores - tudo isso faz dessa uma boa primeira experiência, porque permite que se agregue experiências diversas.Em segundo lugar, que se estude a História da Arte. Que se leia Valéry, Benjamin, Anatole Rosenfeld, Ezra Pound, Adorno, Paulo Freire. Que,em caso de extremada timidez, se busque um curso de teatro para vencer a inibição. Que se beba muita água. Que, diariamente, se faça o exercício da humildade, buscando olhar o mundo através do olhar do outro para assim fortalecer seu olhar individual. E, principalmente, que se note que a verdade, quase sempre, é tão relativa e arbitrária quanto qualquer invenção e que toda e qualquer tese pode ser posta em questão. Inclusive essa.

Um comentário:

Luciano Laner (Montanha) disse...

Olá Marielen Baldissera , Tiago Pizzutti e Mário Terrazas.
A entrevista que você publicaram em meu nome foi concedida pela mediadora da equipe do Programa Educativo da Fundação Iberê Camargo, Gerusa Marques.
Favor corrigir.
Obrigado.